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O infiltrado


Nuno estava visivelmente alterado. Gesticulava efusivamente para um dos ocupantes do autocarro, que não o percebendo, apenas encolhia os ombros. “Nunca mais acaba esta chuva horrenda.” Exclamava enquanto procurava um lugar vago para se sentar. Sentou-se junto da janela para ver chover e esquecer aquele dia. “Nunca mais deixa de chover, este ano não há primavera.” disse para o colega do banco do lado. “Pois é nunca mais chega o verão.” E a conversa manteve-se com base na meteorologia por alguns minutos. Pouco tempo depois chegava ao seu destino. Saiu, colocou o chapéu para se proteger da chuva miúda que teimava em cair e seguiu em direcção ao edifício governamental. Tinha transposto os primeiros degraus quando ouviu o seu nome. Virou-se e deparou-se com o amigo de longa data, o Carlos Eduardo. “Então Edu que fazes por aqui?” “Vim tratar de uns papeis, vou candidatar-me à policia.” “E tu, que fazes todo aperaltado. Parece que vais a uma festa.” “Pois é, é mesmo isso, vou a uma festa.” Eduardo estranhou o amigo, que lhe parecia evasivo. “Olha, tens o botão de cima desabotoado. Se vais a uma festa ao menos vai decente.” Eduardo abotoou-lhe o botão e despediu-se. Nuno ficou a pensar. Será que o amigo se apercebeu de que o botão era uma minicâmara?

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