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Jim Morrison & Jack Kerouac: e se?


“Se ele não tivesse escrito o “Pela estrada fora”, os The Doors nunca teriam existido” – Ray Manzarek

Ray Manzarek podia ainda ter acrescentado que se Jack Kerouac não tivesse escrito o “Pela estrada fora”, o final dos anos 60 não podia ter acontecido da forma como ocorreu, com jovens a ir para a estrada na procura do seu eu, como JACK KEROUAC havia descrito nos seus romances.

“Pela estrada fora”, foi lançado em 1957, altura do boom da geração beat, em que os membros desta estavam na sua fase de adolescência. Os escritos de JACK KEROUAC eram irresistíveis, as descrições românticas de Dean Moriarty e as viagens pelo país de Sal Paradise. As aventuras que fervilhavam nas suas cabeças, conhecer novas pessoas enquanto viajavam pela estrada fora em busca de iluminação, que eles não sabiam bem o que era, mas reconheceriam quando a encontrassem.

As descrições viscerais de JACK KEROUAC sobre música coincidiram com o aparecimento de Elvis Presley e o nascimento do Rock’n’Roll. Apesar das descrições de JACK KEROUAC incidirem sobre músicos de jazz, ele viu a relação entre as suas descrições da cena jazzística e do Rock’n’Roll. JACK KEROUAC chegou mesmo a pedir à sua editora para que o “Pela estrada fora” fosse editado antes que a cena do Rock’n’Roll pudesse de alguma forma terminar.

“Pela estrada fora” abriu as portas para o mundo a uma geração cujos pais procuravam segurança e conforto nos subúrbios pré-fabricados e que antes de atingirem a maturidade, procuravam os destinos e a iluminação que JACK KEROUAC havia descrito.

Para Jim Morrison, o “Pela estrada fora” pode-lhe ter aberto um mundo de pensamentos. Os personagens de JACK KEROUAC falam de Baudelaire, Kafka, Nietzsche, Rimbaud e William Blake, todos eles declarados como favoritos por JIM MORRISON.

É discutível que JIM MORRISON tivesse adoptado Dean Moriarty como modelo. Em todas as suas biografias reconhece que começou a pedir boleia aquando da altura em que frequentava o ST. Petersburg Junior College, aos fins-de-semana, para ir visitar Mary Werebelow, sua namorada da altura, ou para ir visitar a família por altura da acção de graças. JIM MORRISON fazia-se à estrada para se aventurar com o seu primo num churrasco de família ou uma vez com um amigo em que pediram boleia a uma mulher, que parecia estar disposta a ter relações sexuais com um, ou mesmo com os dois, como ele próprio contou.

Pedir boleia e andar pela estrada fora foi apenas um meio de transporte para se deslocar, foi sobretudo uma maneira de procurar aventura e vivenciar experiências.

As descrições de Dean Moriarty feitas por JACK KEROUAC podiam muito bem ser aplicadas a JIM MORRISON: “A primeira impressão que tenho de Dean é de um jovem magro, olhos azuis, com um verdadeiro sotaque de Oklaoma”. É exactamente assim que JIM MORRISON aparece nas suas primeiras fotos publicitárias.

JACK KEROUAC é muitas vezes citado: “As únicas pessoas para mim são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, desejosos de tudo ao mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam ou dizem uma coisa banal, mas queimam, queimam, queimam, como fabulosas velas romanas amarelas explodindo como aranhas através das estrelas e no meio você vê o azul pop luminoso e todo o mundo vai “awww!””.

JIM MORRISON parafraseou estas palavras para se descrever a si próprio: “Eu vejo-me como um enorme cometa de fogo, uma estrela cadente. Todo o mundo pára, aponta para cima e engasga-se – oh, olha isso! -. Então vou-me embora… e eles nunca irão ver nada parecido nunca mais… e eles não serão capazes de me esquecer.”

Todos nós já participámos do jogo do salão ou numa tempestade de ideias e perguntámo-nos o que faríamos se encontrássemos os nossos heróis e o que aconteceria? Entramos neste tipo de jogo mental a toda a hora, e se Jesus e Gandhi se reunissem para falarem? ou Karl Marx e Thomas Jefferson? ou Da Vinci e Van Gogh? ou Einstein e Marilyn Monroe? ou mesmo nós os dois!

Será que alguma vez JIM MORRISON e JACK KEROUAC se encontraram?

Há no meio de tudo isto uma evidência quase anedótica de que este encontro pode ter acontecido. A primeira evidência pode ter sido puro acaso, o facto de JIM MORRISON e JACK KEROUAC terem vivido em Clearwater, Flórida, ao mesmo tempo em 1961/62.

JIM MORRISON disse ter frequentado alguns dos mesmos cafés que JACK KEROUAC, como o “The House of Seven Sorrows” e o “Beaux Arts“. Ambos são conhecidos por terem frequentado esses dois cafés, o facto de aí terem estado ao mesmo tempo não é inconcebível.

Sabe-se que JACK KEROUAC é também conhecido por diversas vezes ter tido fans adolescentes a sair com ele. Por essa altura JACK KEROUAC tinha então 40 anos e JIM MORRISON estava na juventude dos seus 19 anos.

Acaba por ser tentador imaginar um adolescente como JIM MORRISON a partilhar uma cerveja com JACK KEROUAC, e ouvindo este falar de literatura.

No livro “Kerouac Subterranean” de Ellis Amburn, existe um parágrafo em que este fala de uma tentativa de JIM MORRISON visitar JACK KEROUAC na sua casa de Lowell MA, em 1968.

Se alguma vez JIM MORRISON e JACK KEROUAC se encontraram acidentalmente em Clearwater, tal facto nunca foi registado. Nunca poderemos saber se JIM MORRISON procurou JACK KEROUAC, mas podemos reflectir sobre o que aconteceria se os dois se tivessem encontrado algum dia ao longo deste nosso fosso existencial. Talvez nunca venhamos a saber se eles se encontraram, mas podemos sempre perguntarmo-nos: e se?

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